domingo, 30 de agosto de 2015

Notas de Um Tempo Silenciado – Robson Vilalba

 
Notas de Um Tempo Silenciado, de Robson Vilalba, publicado em junho deste ano, é um quadrinho fragmentado em histórias referentes do golpe de 1964. Nessas páginas não temos uma releitura dos episódios clássicos, mas uma imersão na história do Brasil e dos brasileiros, algumas delas que permaneceram esquecidas e outras silenciadas.

Formado por treze capítulos: I - No princípio, as trevas; II - As vozes da rua; III - Fogo contra fogo; IV - O duplo; V - O mais longo dos anos; VI - A guerrilheira; VII - Herói de guerra; VIII - Nem tudo foi milagre; IX - A domesticação dos selvagens; X - Os passos da integração; XI - História de caça às bruxas; XII - Desarmados e perigosos; XIII - Salvadores da pátria; e concluindo com uma série de extras na seção Revelando o Notas. A obra de Vilalba acaba sendo um mosaico da pluralidade dos danos desse período nefasto.

A princípio oito dos treze capítulos de Notas foram publicados na série Pátria Armada Brasil pela Gazeta do Povo em março e abril de 2014. Você pode conferir os oitos capítulos AQUI. Como consequência de seu cuidadoso trabalho, o autor recebe o Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos no mesmo ano. 

Notas faz uma análise direta e muito interessante desses acontecimentos e o autor consegue condensar as informações em poucas páginas de forma clara e que instigam a reflexão e a pesquisa. O traço realista ajuda também a externalizar os males da ditadura de 64.

Dentre esses fatos, as vozes silenciadas dos povos indígenas foi um dos pontos que achei mais importante no quadrinho, pois são esses, que sofreram e sofrem com a violência, desde a época da colonização (ou invasão, se preferirem) e que estão postos à margem da história do Brasil, definidos como cidadãos de segunda classe. Naquelas páginas, a mordaça é retirada para que gritem em protesto, para que suas dores não sejam esquecidas e que não sejam classificadas como menos importantes.

O caderno suplementar Revelando o Notas merece destaque, pois estão reunidas informações mais detalhadas a respeito de cada capítulo, incluindo suas fontes; relatos do autor; e textos curiosos de pesquisadores, jornalistas e editores acerca dos fatos presentes nessa obra. Recomendo a leitura de dois textos em particular: Engenharia do Caos, de Milton Ivan Heller – fala dos apoiadores e patrocinadores do golpe; e Nós, Os Índios do Brasil, de Maria Rita Kehl – um texto profundo sobre os considerados cidadãos de segunda classe.


Chamou-me atenção uma parte do mosaico que parece com o cenário atual: o capítulo dois As vozes da rua, que comenta sobre a Marcha da Família com Deus pela Liberdade. Aquela marcha fascista que tinha como objetivo apoiar o golpe que seria executado pelas Forças Armadas dias depois, antecedendo a derrubada de João Goulart da presidência da República.

Assim como a marcha de cinquenta e um anos atrás, as “manifestações” atuais de ‘verde e amarelo’ seguem com os mesmos argumentos: a vaga luta contra a corrupção (*por obsequio, me diga, quem em sã consciência é a favor da corrupção? Até o corrupto é contra a corrupção. E não, o Escândalo na Petrobras não é o maior escândalo de corrupção do nosso país. Force a memória e lembra-se daquela mineradora, patrimônio público, chamada Vale do Rio Doce, que foi “vendida” a preço de banana (avaliada em R$100 bilhões, foi vendida por apenas R$3,3 bilhões) para grandes corporações privadas estrangeiras na época do governo FHC. Vendida entre aspas, porque o dinheiro pago veio do BNDES, ou seja, nosso dinheiro emprestado a juros de pai para filho.*) e a ameaça “comunista” (*que só existe na cabeça deles. E que raios de Comunismo é esse que privatiza ao invés de estatizar?*). O estilo dos manifestantes também segue a mesma linha dos de 64: tradicionalistas, religiosos fanáticos (cristãos!), resumindo: fascistas. Que se dizem nacionalistas, mas que adoram entregar nossa riqueza para os capitais estrangeiros.

Toda essa ode aos anos de chumbo é patrocinada por quem? Assim como nas ditaduras implantadas na América Latina dos anos 50 e 60, pelo atual império: Estados Unidos, que há décadas vem destruindo países (Iraque, Afeganistão, Vietnã, etc.), roubando riquezas e implantando ditaduras fascistas travestidas de democracia. (*Recomendo fortemente o documentário Zeitgeist Addendum – clique AQUI para assistir e não se esqueça de ativar a legenda em português*)

Espero que um novo golpe não aconteça, espero que não tenhamos o mesmo cenário da época da ditadura militar e de governos de direita, mas que avancemos para uma sociedade igualitária.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Zuzu Angel


No começo da década de 70, Zuleica – Zuzu – Angel era uma estilista brasileira badalada nos Estados Unidos e pronta para tomar o mundo. Presença constante na elite brasileira (composta de muitos militares), ela enfrentava uma realidade muito diferente em casa. Stuart, seu filho, havia se aproximado de movimentos de esquerda e estava atualmente participando do movimento estudantil.

Enquanto se prepara para comemorar a aprovação de um financiamento que poderia elevar sua marca, Zuzu recebe a notícia de que Stuart foi preso pelos militares. Ela vai com as filhas procurá-lo, mas ninguém pode dizer nada sobre Stuart. Os advogados não podem ajudá-la porque os militares acabaram com o Habeas Corpus para crimes políticos.

Zuzu é rápida. Utilizando-se de seus contatos com as esposas da alta sociedade, ela consegue ajuda de um General que vai com ela para procurar seu filho. Sem sucesso. Militar após militar, todo negaram estar com Stuart. Com a insistência para achar seu filho, ela vira alvo dos militares que começam a mantê-la sob vigilância.

O filme é alinear e vai e volta no tempo para nos mostrar que Zuzu foi uma mulher que enfrentou paradigmas desde muito cedo na vida. Com o ex-marido, um americano, teve três filhos. Quando se separaram, ela retornou com os filhos para o Rio de Janeiro apenas para conviver com o estigma de que “mulher desquitada é tudo vagabunda”.

Um dia, ela recebe uma carta de um companheiro do filho narrando a morte de Stuart. Ele conta como foi a captura dos dois e como foi o processo de tortura. As cenas são fortes. Como diz um dos militares: “A tortura é uma questão de tempo… e de dor”. As torturas a que Stuart foi submetido foram coisas mais do que tenebrosas e brutais. A busca de Zuzu agora muda. Ao invés de buscar Stuart nas prisões, ela começa a buscá-lo em cemitérios. Stuart morreu por conta das torturas e ninguém sabe onde está o seu corpo.

E aí, a mulher que pedia para o filho “deixar disso”, que tentava evitar dar opiniões políticas muito firmes, passou a bater de frente com os militares. Ela procura jornais, sem nenhum retorno. Ela faz cópias da carta que recebeu e envia para todos os intelectuais, políticos e a maioria das pessoas influentes com quem tinha contato. Seus olhos estão abertos para a realidade ainda que ela própria continue sendo ignorada. Seus vestidos de flores não importam mais.

A melhor parte é o julgamento de Stuart… depois de morto. Ele é inocentado, mas já não adianta mais. É uma palhaçada sem tamanho.

Luana Piovanni interpreta Elke Maravilha, amiga e modelo de Zuzu. A própria Elke faz uma participação especial. O desfile seguinte de Zuzu seria emblemático: os tons vibrantes e agradáveis dão espaço a tons escuros e estampas pesadas. Ao final do desfile ela entrega uma foto do filho para todos os presentes. Ela queria que a imprensa internacional contasse a verdade. Mal sabe ela que pedir ajuda nos EUA é o mesmo que nada, já que o país apoiou o golpe e os Governos militares subsequentes. Ainda assim, ela não deixa de tentar.

Patrícia Pillar é incrível. Não sei quantos corações dar para essa mulher. Atuação fantástica. É um filme grande, com boas atuações sobre uma vida verdadeiramente trágica. Zuzu morreu em um acidente de carro que, anos depois, foi reconhecido como atentado. Ninguém nunca foi preso pela morte nem de Zuzu, nem de seu filho (cujo corpo foi jogado no mar). Recomendo ver e rever e ver de novo, mas separe muitos lencinhos e esteja certo de que está em dia com o cardíaco.

Chico Buarque, amigo da estilista, escreveu uma música (Angélica) para Zuzu após a sua morte que é absurdamente triste.

“Quem é essa mulher
Que canta sempre esse estribilho?

Só queria embalar meu filho
Que mora na escuridão do mar”

*Resenha originalmente publicada no blog O Poderoso Resumão e gentilmente enviada pela Patrícia. Obrigada, Patrícia! :)

Lendo a Ditadura: A Hora dos Ruminantes, de José J. Veiga


Resenha de A Hora dos Ruminantes, de José J. Veiga, pelo blog Ficções do Interlúnio.
Clique na imagem para ler o texto.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

#Lendo a Ditadura: Retrato Calado, de Luiz Salinas





Aliné Aimée, do blog e canal Little Doll House, fez um vídeo resenha sobre o livro Retrato Calado, de Luiz Roberto Salinas Fortes. Obrigada, Aline! :)

domingo, 23 de agosto de 2015

Lendo a Ditadura | Erico Veríssimo - Incidente em Antares





A Inês, do blog e canal InêsBooks gravou um vídeo lá de Portugal sobre o romance Incidente em Antares, de Érico Veríssimo. Obrigada, Inês! :)